quinta-feira, 31 de outubro de 2013

SÉRIE DE ESTUDOS EM COMEMORAÇÃO PELO ANIVERSÁRIO DA REFORMA PROTESTANTE

JOÃO CALVINO
A mente da Reforma

O homem responsável pela sistematização doutrinária e pela expansão do protestantismo reformado foi João Calvino. O “pai do protestantismo reformado” é Zwínglio. Mas o homem que moldou o pensamento reformado foi João Calvino. Por isso, o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas ou Presbiterianas chama-se calvinismo.
Jean Cauvin, mais conhecido por nós como João Calvino, nasceu em Noyon, França, em 10 de Julho de 1509. Aos 14 anos foi estudar em Paris preparando-se para entrar na universidade. Estudou gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. Em 1523 foi estudar no famoso Colégio Montaigu.

Em 1528, com 19 anos, iniciou seus estudos em Direito e, depois, em Literatura. Em 1532 escreveu seu primeiro livro, um comentário à obra De Clementia de Sêneca. Em 1533, na reabertura da Universidade de Paris, escreveu um discurso atacando a teologia dos escolásticos e foi perseguido. Possivelmente foi neste período 1533-34 que Calvino foi convertido pelo Senhor, por influência de seu primo Robert Olivétan.

Em 1536, a caminho de Estrasburgo, encontrou uma estrada obstruída, o que o fez passar a noite em Genebra. Como sua fama já o precedia, Farel o encontrou e o convenceu a permanecer em Genebra para implantarem a Reforma Protestante naquela cidade. Começou a escrever a obra magna da Reforma – As Institutas da Religião Cristã. Em 1538 foi expulso de Genebra e viajou para Estrasburgo, onde trabalhou como pastor e professor. Casou-se com uma viúva anabatista chamada Idelette de Bure. Em 1541 foi convidado a voltar a Genebra. Em 1559 escreveu a edição final das Institutas e, no decorrer de seus poucos anos de vida, escreveu tratados, centenas de cartas, e comentários sobre quase todos os livros da Bíblia.

Em 27 de Maio de 1564, com 55 anos de idade, foi ao encontro do Senhor. O grande Teológo da Reforma, usado por Deus, influenciou o mundo com seus escritos. Sua piedade e dedicação ao estudo da Palavra são inspiradores.

ACMJ
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João Calvino – Como ele foi? O que aprendemos dele?
No dia 10 de Julho de 2008 João Calvino completaria 499 anos. Ele é o nosso mais ilustre desconhecido. Ouvimos falar dele e de sua obra, mas sempre em citações passageiras e que muitas vezes descobriram-no como a pessoa que foi. Minha primeira impressão sobre ele era que fosse um homem brilhante, mas inflexível e rígido demais quanto a seus princípios; um professor muito inteligente, porém de difícil relacionamento. Contudo, ao vê-lo mais de perto, descobri que foi tanto brilhante como piedoso. Calvino é um exemplo de fé cristã para nós. Ele nos dá exemplo que precisamos aprender e seguir.
O período que viveu com exilado em Estrasburgo (1538-41) retrata bem para nós quem foi João Calvino.
Calvino foi um pastor: Pastoreou refugiados franceses na pequena igreja de S. Nicolas, situada junto ao muro sul da cidade. Celebrava o sacramento da Ceia, dedicava-se à visitação pastoral e pregava quatro sermões semanais. Traduziu vários salmos para a métrica francesa para serem usado no canto congregacional. A igreja era pequena, mas cantava alegremente sob o seu pastorado.
Calvino foi professor: Tornou-se conferencista das Sagradas Escrituras na escola secundária local, onde dava palestras três vezes por semana. Além disso, dava aulas particulares e advogava nas horas vagas. Seu salário era um florim semanal, que recebeu a primeira vez com seis meses de atraso, o que também o forçava a vender parte de seus livros para sobreviver.
Calvino foi um escritor: Reeditou e ampliou as Institutas em agosto de 1539, e em 1541 editou a sua primeira tradução francesa. Publicou o Comentário aos Romanos (1539). Outros três trabalhos desse período são muito importantes: A Resposta a Sodoleto, o primeiro tratado apologético da Reforma Protestante, que foi responsável por sua volta a Genebra em 1541. A Forma das Orações e Hinos Eclesiásticos (13 hinos), direcionados à liturgia, constava da metrificação de Salmos. Calvino acreditava que acima de tudo era importante cantar a Palavra. O Pequeno Tratado Sobre a Ceia, como o seu primeiro esforço por chegar a uma posição intermediária entre a posição memorial de Zwinglio e a consubstanciação de Lutero quanto à presença de Cristo na Ceia [Leia estudo: A Transubstanciação - R. C. Sproul].
Calvino foi um estadista da Igreja: Participou junto com Bucer e Capito, (reformadores contemporâneos) de várias tentativas para unificar os protestantes alemães e suíços. Inclusive encontros entre católicos e protestantes, visando a unidades em Frankfurt, Hagenau e Worms. Desses encontros nascera, sua amizades com Filipe Melanchthon (luterano) e suas inúmeras correspondências com Bullinger (zuingliano). Desistiu de encontros com católicos após 1541 quando percebeu a inflexibilidades católica quanto a seus dogmas e doutrinas não fundamentadas nas Escrituras.
Calvino foi marido e hospitaleiro pai de família. Casou-se com Idelete de Bure, uma holandesa, viúva de um anabatista convertidos à fé reformada por intermédio  do próprio Calvino. Ela tinha dois filhos de seu primeiro casamento. Era graciosa, porém de uma saúde muito precária, assim como Calvino também era. Dessa união nasceu Jacques, nascido prematuro e morto ainda antes de completar um mês de vida. Idelete faleceu prematuramente em 1546. Calvino nunca se casou novamente.
O que precisamos aprender com Calvino?
1. Fidelidades às Escrituras.
Deixou claro que a teologia não pode e não deve ser especulativa, mas submissa ao texto bíblico. O que o texto bíblico diz está acima de qualquer interesse pessoal.
2. Amor para com a Igreja.
Dedicou-se à unidade da Igreja enquanto via que era possível. Era amigo íntimo e conselheiro de vários reformadores, reis, nobres e membros perseguidos de várias igrejas.
3. Teologia engajada.
A teologia de Calvino não era uma teologia de gabinete, mas de um trabalho pastoral intenso. As Institutas não são apenas um manual de teologia, mas um manual para a igreja viver e de uma igreja viva que busca se expressar. A boa teologia é um guia para a vida!
4. Glória só a Deus.
Não se sabe com certeza onde foi sepultado, pois pediu sigilo, a fim de que o seu nome não fosse exaltado, mas o de Deus, que fizera toda a obra por seu intermédio.
Autor: Rev. Hélio de Oliveira Silva - http://revhelio.blogspot.com/  - Presbiteriano, bacharel em teologia pelo SPBC – Goiânia e mestre em história da Igreja pelo CPPGAJ.
Fonte: Jornal Brasil Presbiteriano, pg. 19, Ano 50, nº 645 – Julho de 2008.

Ele viveu cinqüenta e quatro anos, dez meses, e dezessete dias, e dedicou metade de sua vida ao sagrado ministério. Ele tinha estatura mediana; a aparência sombria e pálida; os olhos eram brilhante até mesmo na morte, expressando a agudez da sua compreensão. 
Theodore Beza

Eu poderia feliz e proveitosamente assentar-me e passar o resto de minha vida somente com Calvino. 
Carta de Karl Barth ao amigo Eduard Thurneysen, escrita em 8 de junho de 1922. 

Calvino, falando das diversas calúnias que levantavam contra ele, partindo, inclusive, de falsos irmãos, diz: 

Só porque afirmo e mantenho que o mundo é dirigido e governado pela secreta providência de Deus, uma multidão de homens presunçosos se ergue contra mim alegando que apresento Deus como sendo o autor do pecado. [...] Outros tudo fazem para destruir o eterno propósito divino da predestinação, pelo qual Deus distingue entre os réprobos e os eleitos. 

O que nos chama a atenção na aproximação bíblica de Calvino é, primeiramente, o seu amplo e em geral preciso conhecimento dos clássicos da exegese bíblica, os quais cita com abundância, especialmente Crisóstomo, Agostinho e Bernardo de Claraval. Outro aspecto é o domínio de algumas das principais obras dos teólogos protestantes contemporâneos, tais como Melanchton – a quem considerava um homem de “incomparável conhecimento nos mais elevados ramos da literatura, profunda piedade e outros dons [e que por isso] merece ser recordado por todas as épocas" –, Bucer e Bullinger. Contudo, o mais fascinante é o fato de que ele, mesmo se valendo dos clássicos – o que, aliás, nunca escondeu –, conseguiu seguir um caminho por vezes diferente, buscando na própria Escritura o sentido específico do texto: a Escritura interpretando-se a si mesma. 

Autor: Hermisten Costa 
Fonte: Coleção Pensadores cristãos - Calvino de A a Z, Editora Vida, Compre este Livro emhttp://www.editoravida.com.br 
 
As Institutas da Religião Cristã é obra mais influente da Reforma Protestante e depois das Escrituras Sagrada não há nada que se compare a ela. Veja ao lado direito duas edições das Institutas publicado pela Editora Cultura Cristã.
Thea B. Van Halsema¹ discorrendo a história de Calvino, quando no trecho que fala da obra prima de Calvino - As Institutas da Religião Cristã, ele escreve:
Foi assim que apareceu a poderosa obra que recolheu da Palavra de Deus um completo sistema doutrinário. As Institutas começaram com Deus, concluíram com Deus e encontraram todas as coisas em Deus, o Deus triúno. Calvino escreveu com clareza, com uma lógica de advogado. Escreveu eloqüentemente, como um autor que maneja com perícia as suas palavras. Escreveu brilhantemente, com uma mente que aprende a inteireza da verdade de Deus como é possível ao homem conhecê-la. Escreveu apaixonadamente, com um coração devotado inteiramente ao seu Senhor. E escreveu humildemente, porquanto sua vida tinha sido resgatada do lamaçal do pecado unicamente pela graça de Deus. Ninguém havia escrito assim anteriormente. E, posteriormente, ninguém conseguiu escrever de maneira a aproximar a magnificência com que Calvino expôs as "verdades da religião cristã".

Síntese biográfica do reformador João Calvino
João Calvino nasceu em Noyon, nordeste da França, no dia 10 de julho de 1509. Seu pai, Gérard Calvin, era advogado dos religiosos e secretário do bispo local. Aos 12 anos, Calvino recebeu um benefício eclesiástico cuja renda serviu-lhe de bolsa de estudos.
• Em 1523, foi residir em Paris, onde estudou latim e humanidades (Collège de la Marche) e teologia (Collège de Montaigu). Em 1528, iniciou seus estudos jurídicos, primeiro em Orléans e depois em Bourges, onde também estudou grego com o erudito luterano Melchior Wolmar. Com a morte do pai em 1531, retornou a Paris e dedicou-se ao seu interesse predileto - a literatura clássica. No ano seguinte publicou um comentário sobre o tratado de Sêneca De Clementia.
• Calvino converteu-se à fé evangélica por volta de 1533, provavelmente sob a influência do seu primo Robert Olivétan. No final daquele ano, teve de fugir de Paris sob acusação de ser o co-autor de um discurso simpático aos protestantes, proferido por Nicholas Cop, o reitor da universidade. No ano seguinte, voltou a Noyon e renunciou ao benefício eclesiástico. Escreveu o prefácio do Novo Testamento traduzido para o francês por Olivétan (1535).
• Em 1536 veio a lume primeira edição da sua grande obra, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, introduzidas por uma carta ao rei Francisco I da França contendo um apelo em favor dos evangélicos perseguidos. Alguns meses mais tarde, o reformador suíço Guilherme Farel o convenceu a ajudá-lo na cidade de Genebra, que acabara de abraçar a Reforma. Logo, os dois líderes entraram em conflito com as autoridades civis sobre questões eclesiásticas, sendo expulsos em 1538.
• Calvino foi para Estrasburgo, onde residia o reformador Martin Bucer. Atuou como pastor, professor, participante de conferências e escritor. Produziu uma nova edição das Institutas (1539), o Comentário da Epístola aos Romanos, a Resposta a Sadoleto (uma apologia da fé reformada) e outras obras. Casou-se com a viúva Idelette de Bure (falecida em 1549).
• Em 1541, Calvino retornou a Genebra por insistência dos governantes da cidade. Assumiu o pastorado da igreja reformada e escreveu para a mesma as célebres Ordenanças Eclesiásticas. Por catorze anos, enfrentou grandes lutas com as autoridades civis e algumas famílias influentes (os "libertinos"). Apesar de estar constantemente enfermo, desenvolveu intensa atividade como pastor, pregador, administrador, professor e escritor. Produziu comentários sobre quase toda a Bíblia.
• Em 1555, os partidários de Calvino finalmente derrotaram os "libertinos." Os conselhos municipais passaram a ser constituídos de homens que o apoiavam. A Academia de Genebra, embrião da futura universidade, foi inaugurada em 1559. Nesse mesmo ano, Calvino publicou a última edição das Institutas. O reformador faleceu aos 55 anos em 27 de maio de 1564.
Autor: Rev. Alderi Souza de Matos
Fonte: http://www.ipb.org.br/artigos/artigo_inteligente.php3?id=21

A Conversão de João Calvino
Não nos é possível precisar as circunstâncias e data da “súbita conversão” de Calvino: contudo, as evidências apontam para um período entre 1532-1534. Devemos estar atentos também para o fato de que a vida de Calvino, mesmo antes da sua conversão, não fora marcada por um comportamento dissoluto e imoral – já tão comum nos jovens de seu tempo -, antes, a sua conversão, como observa Schaff, “foi uma transformação do romanismo para o protestantismo, da superstição papal para a fé evangélica, do tradicionalismo escolástico para a simplicidade bíblica”[1].
Crê-se que o seu primo Olivétan – ainda que não isoladamente – teve uma participação importante na sua conversão ao protestantismo. Lembremo-nos de que Calvino não é muito pródigo ao falar da sua vida. No que se refere à sua conversão em 1539 diz:
“Contrariado com a novidade, eu ouvia com muita má vontade e, no inicio, confesso, resisti com energia e irritação; porque (tal é a firmeza ou descaramento com os quais é natural aos homens resistir no caminho que outrora tomaram) foi com a maior dificuldade que fui induzido a confessar que, por minha vida, eu estivera na ignorância e no erro” [2].
Na Introdução do seu comentário de Salmos (1557), diz que: “Inicialmente, visto eu me achar tão obstinadamente devoto às superstições do papado, para que pudesse desvencilhar-me com facilidade de tão profundo abismo de lama, Deus, por um ato súbito de conversão, subjugou e trouxe minha mente a uma disposição suscetível, a qual era mais empedernida em tais matérias do que se poderia esperar de mim naquele primeiro período de minha vida”[3].
Também na já citada carta ao Cardeal Sadoleto (01/09/1539), Calvino descreve as suas angústias espirituais no romanismo, resultantes do que a igreja pregava [4]. No entanto, em nenhum momento, Calvino menciona o instrumento humano usado por Deus.
Nota:
[1] – Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, 1996, Vol.
III, p. 310.
[2] Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, 4ª ed. Barcelona, Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1990, p. 63.
[3] João Calvino, O livro de Salmo, São Paulo, Parakletos, 1999, Vol 1, p. 38.
[4] Vd. Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto, pp.61-64.
Autor: Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa
Fonte: Nota 1 da página 11, Vol I, As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, tradução Odayr Olivetti.


A OPINIÃO DE CALVINO SOBRE A GUARDA DO SÁBADO (a quem possa interessar)

Como alguns membros de seitas gostam de citar bastante Calvino e os reformadores em seus ensinos, trago aqui um pouco da opinião de Calvino sobre o Sábado. O comentário completo de Calvino sobre o quarto mandamento pode ser encontrado no segundo livro de suas Institutas.

AINDA QUE CANCELADO, HÁ NO SÁBADO ASPECTOS VIGENTES
Com efeito, por isso é que nas velhas sombras não se devem numerar as duas
causas posteriores que se enfeixam neste mandamento; ao contrário, convêm elas,
igualmente, em todos os séculos, ainda que o sábado esteja cancelado, entre nós,
não obstante, ainda tem lugar isto: primeiro, que nos congreguemos em dias deter-
minados para ouvir a Palavra, para partir o pão místico, para as orações públicas;
segundo, para que se dê aos servos e aos operários relaxação de seu labor.
Paira além de dúvida
que, na preceituação do sábado, o Senhor teve em mira a
ambas. Sobejo testemunho tem a primeira, mesmo que seja só no uso dos judeus. A segunda gravou-a Moisés no Deuteronômio, nestas palavras: “Para que descanse teu servo, e tua serva, assim como também tu; lembra-te de que também tu mesmo foste servo no Egito” [Dt 5.14, 15]. De igual modo, no Êxodo: “Para que descanse teu boi e teu jumento e tome alento o filho de tua serva” [Êx 23.l2]. Quem há de negar que uma e outra nos convém, exatamente como convinha aos judeus?
Reuniões de Igreja nos são preceituadas pela Palavra de Deus, e sua necessidade
nos é suficientemente assinalada pela própria experiência da vida. Como se podem elas realizar, a não ser que tenham sido promulgadas e tenham seus dias estabelecidos? Segundo a postulação do Apóstolo [1Co 14.40], todas as coisas entre nós devem ser feitas decentemente e com ordem. Tão longe, porém, está
de que se possa conservar a decência e a ordem, a não ser mediante esta organização e regularidade, as quais, se se desfazem, sobre a Igreja pairam mui presente  perturbação e ruína.
Pois se a mesma necessidade pesa sobre nós, em socorro da qual o Senhor constituíra o sábado para os judeus, ninguém alegue que ele não nos diz respeito. Ora, nosso providentíssimo e indulgentíssimo Pai quis prover à nossa necessidade, não menos que à dos judeus.
Por que, dirás, não nos congregamos antes diariamente, de sorte que, dessa forma, se ponha termo à distinção de dias? Prouvera que, de fato, isto se nos concedesse! E, por certo, a sabedoria espiritual era digna de que se lhe reservasse diariamente alguma porçãozinha do tempo. Mas, se pela fraqueza de muitos não se pode conseguir que se realizem reuniões diárias, e a norma da caridade não permite deles exigir mais, por que não obedeçamos à norma que nos foi imposta pela vontade de
Deus?

 O ESPÍRITO E FUNÇÃO DA OBSERVÂNCIA DO DOMINGO
Sou compelido a estender-me um pouco mais aqui, porque alguns espíritos inquietos estão hoje a causar tumulto por causa do Dia do Senhor. Acusam o povo cristão de ser nutrido no judaísmo, porquanto retém certa observância de dias. Eu, porém, respondo que estes dias são por nós observados aquém do judaísmo, porque nesta matéria diferimos dos judeus por larga diferença. Pois, não o celebramos como uma cerimônia revestida com a mais estrita religiosidade, pela qual pensamos representar-se um mistério espiritual. Pelo contrário, tomamo-lo como um remédio necessário para reter-se ordem na Igreja.
Ademais, Paulo ensina que os cristãos não devem ser julgados por sua observância, uma vez ser ela mera sombra da realidade futura [Cl 2.16, 17]. Por isso, arreceia-se de que haja trabalhado em vão entre os gálatas, porque ainda observavam dias [G1 4.10, 11]. E aos romanos declara ser supersticioso se alguém julga entre dia e dia [Rm 14.5]. Quem, entretanto, exceto estes desvairados somente, não vê que observância o Apóstolo tinha em mente?
Pois, aqueles a quem se dirigia não contemplavam neste propósito a ordem política e eclesiástica; antes, como retivessem os sábados e dias de guarda como sombras das coisas espirituais, obscureciam em extensão correspondente a glória de Cristo e a luz do evangelho. Abstinham-se dos labores manuais não por outra razão senão para que fossem embaraços aos sacros estudos e meditações; e assim, com uma certa devoção,
sonhavam que, ao observá-lo, estavam a rememorar mistérios dantes recomendados. Contra esta antagônica distinção de dias, digo-o, investe o Apóstolo, não contra a legítima opção que serve à paz da sociedade cristã. Com efeito, nas igrejas por ele estabelecidas, o sábado era mantido para este propósito. Ora, prescreve ele esse dia aos coríntios, para que se coletem ofertas a fim de serem socorridos os irmãos hierosolimitanos [1Co 16.2].
Se porventura se teme superstição, muito mais perigo havia nos dias de guarda judaicos, nos dias do Senhor, do que agora observam os cristãos. Pois, visto que para suprimir-se a superstição se impunha isto, foi abolido o dia sagrado observado pelos judeus; e como era necessário para se conservarem o decoro, a ordem e a paz na Igreja, designou-se outro dia, o domingo para este fim.

 O GENUÍNO SENTIDO DO DOMINGO
Contudo, não foi sem alguma razão que os antigos escolheram o dia do domingo para pô-lo no lugar do sábado.
Ora, como na ressurreição do Senhor está o fim e cumprimento daquele verdadeiro descanso que o antigo sábado prefigurava, os cristãos são advertidos pelo próprio dia que pôs termo às sombras a não se apegarem ao cerimonial envolto em sombras. Nem a tal ponto, contudo, me prendo ao número sete que obrigue a Igreja à sua servidão, pois nem haverei de condenar as igrejas que tenham outros dias solenes para suas reuniões, desde que se guardem da superstição.
Isto ocorrerá, se se mantiver a observância da disciplina e da ordem bem regulada.
A síntese do mandamento é: como aos judeus a verdade era comunicada sob prefiguração, assim ela, em primeiro lugar, nos é outorgada sem sombras, para que por toda a vida observemos um perpétuo sabatismo de nossos labores, a fim de que
o Senhor em nós opere por seu Espírito; em segundo lugar, para que cada um, indi-vidualmente, sempre que disponha de lazer, se exercite diligentemente na piedosa reflexão das obras de Deus. Então, ainda, para que todos a um tempo observemos a legítima ordem da Igreja, constituída para ouvir-se a Palavra, para a administração dos sacramentos, para as orações públicas. Em terceiro lugar, para que não oprimamos desumanamente os que nos estão sujeitos.
E assim se desvanecem-se as mentiras dos falsos profetas, os quais, em séculos transatos, imbuíram o povo de uma opinião judaica, asseverando que nada mais  foi cancelado senão o que era cerimonial neste mandamento, com isto entendem  em seu linguajar a fixação do dia sétimo, mas remanescer o que é moral, isto é, a observância de um dia na semana. Com efeito, isto outra coisa não é senão mudar o dia por despeito aos judeus e reter em mente a mesma santidade do dia, uma vez que ainda nos permanece nos dias sentido de mistério igual ao que tinha lugar entre os judeus. E de fato vemos que proveito têm fruído com tal doutrina, pois quantos deles se apegam às estipulações superam três vezes aos judeus em sua crassa e carnal superstição de sabatismo, de sorte que as reprimendas que lemos em Isaías [1.13-15; 58.13] nada
menos lhes convêm hoje que àqueles a quem o Profeta increpava em seu tempo. Contudo, importa manter-se, principalmente, o ensino geral: para que a religião não pereça ou enlanguesça entre nós, devem ser realizadas diligentemente as reuniões sagradas e deve dar-se atenção aos meios externos que servem para fomentar o culto divino.






quarta-feira, 23 de outubro de 2013

SÉRIE DE ESTUDOS EM COMEMORAÇÃO PELO ANIVERSÁRIO DA REFORMA PROTESTANTE


    LUTERO: A VOZ DA REFORMA

     Martinho Lutero, em alemão Martin Luther, (Eisleben10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de1546) foi
um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico que foi figura central da Reforma Protestante. Que ficando contra os conceitos da Igreja Católica veementemente contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517.
     Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Antigo.
     Na Dieta de Worms Lutero declara: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras ou por plena razão - já que não aceito a autoridade do Papa e dos concílios sozinha, visto que está claro que eles freqüentemente erraram e se contradisseram mutuamente - Estou preso pelas Escrituras que citei e a minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém.”
     Lutero ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador.
     Sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a Bíblia é a única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio santo.
     Aqueles que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados luteranos.
     Sua tradução da Bíblia para o alemão, que não o latim fez o livro mais acessível, causando um impacto gigantesco na Igreja e na cultura alemã. Promoveu um desenvolvimento de uma versão padrão da língua alemã, adicionando vários princípios à arte de traduzir, e influenciou a tradução para o inglês da Bíblia do Rei James.
     Seus hinos influenciaram o desenvolvimento do ato de cantar em igrejas. Seu casamento com Catarina von Bora estabeleceu um modelo para a prática do casamento clerical, permitindo o matrimônio de pastores protestantes.
     Lutero lutou veementemente contra a doutrina do livre-arbítrio. Doutrina essa que é aceita pela maioria das igrejas evangélicas exceto, pelas chamadas igrejas reformadas (Presbiteriana, Congregacional, Batistas Reformadas etc.).
    Em Relação ao livre-arbítrio Lutero dizia: “Ninguém pode ser salvo através das obras. Paulo exclui todas as supostas obras do "livre-arbítrio", estabelecendo em seu lugar apenas a graça divina. Não podemos atribuir a nós mesmos a menor parcela de crédito para nossa salvação; ela depende inteiramente da graça divina.”
     No seu livro Nasci Escravo podemos ver como fortemente ele combate essa doutrina: http://www.nazarenopaulista.com.br/estudos/Nascido-Escravo.pdf.
     O ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve morte natural, embora não haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da sua causa de morte.  Encontra-se sepultado na Igreja de Wittenberg na Alemanha.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

SÉRIE DE ESTUDOS EM COMEMORAÇÃO PELA REFORMA PROTESTANTE

   John Huss - Morto pela Igreja Romana 

Introdução
Dizem que política, futebol e religião são temas que “não se discutem”, depende da opinião de cada um, afinal, “cada cabeça, uma sentença”. As pessoas preferem acreditar em muitas “verdades” do que numa verdade absoluta. Dessa forma, o conceito de “certo” e “errado” vai desaparecendo da sociedade. Contrapondo-se a este ensino temos as palavras de Jesus “... a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). E foi a essa Verdade a que John Huss se submeteu. Em sua época, havia uma “verdade” oficial e inquestionável – a verdade da Igreja Católica Apostólica Romana. No entanto, John Huss, conhecendo a legítima Verdade não se calou e fez com que muitos homens e mulheres tivessem acesso à verdadeira libertação dada por Jesus.

1. Um Homem Comum, Mas Sonhador
A.Infância Pobre
John Huss (1369-1415) foi um homem de origem simples. Nasceu no vilarejo de Hussinecz, sul da Boêmia. Seus pais eram camponeses. Sua mãe, muito religiosa, quis que o filho fosse sacerdote. Mais tarde, Huss admitiu ter iniciado a carreira religiosa pelo dinheiro e prestígio que ela dava, mas seu interesse por Deus veio quando ele começou a estudar mais profundamente.
B. Aluno Médio
Huss não foi um aluno brilhante, mas parecia determinado a estudar e crescer. Assim, formou-se na universidade, tornou-se Mestre e dirigente da Capela de Belém, em Praga, cidade importante em seu país. Nesta Igreja, Huss pregava na língua do povo. Nas outras, o serviço religioso era feito em latim.
C. Pastor Preocupado
Huss foi um pastor dedicado. Sua preocupação era agradar a Deus com uma vida santa e prover sólida alimentação espiritual ao povo. Criticava duramente os líderes da Igreja por usarem seus ofícios em benefício próprio, vivendo no conforto e na imoralidade. Para Huss, a autoridade de um líder religioso vinha do seu caráter e não da sua posição.
Huss insistia que o povo deveria viver em total dependência de Deus, numa vida simples e consagrada ao trabalho.
Deus sempre levanta homens simples que sonham em ver a verdade de Deus como luz e guia dos homens. Muitos jovens, homens e mulheres de hoje buscam realizar seu sonho pessoal ou projeto de vida, mas poucos estão dispostos a abraçar o projeto de Deus e lutar contra o erro e o engano. É sobre isso que tratamos no próximo ponto.

2. Um Homem que Enfrentou a Oposição em Nome da Verdade
A. Deus Agindo na História
Deus é soberano. Ele é Senhor da história. Age na história e a dirige segundo a sua vontade. Aquele filho de camponeses foi ferramenta importante. Pela providencia de Deus, Huss fora colocado como o dirigente da Capela de Belém, na importante cidade de praga. A rainha Zofie costumava freqüentar aquela igreja. Ela era esposa do rei Václav da Boêmia. Zofie influenciou o rei para que facilitasse as reformas pretendidas por Huss. Com isso, a reforma cresceu, tendo Huss como líder e o Rei como escudo contra as investidas do papa.
B. Coragem para Estabelecer a Verdade
Apesar da cobertura do Rei, surge no cenário o Arcebispo de praga, chamado Zbynek, um ex-militar e agora superior de Huss. Um estrategista, que usou de sus recursos financeiros e políticos para obter este poderoso cargo no arcebispo de Praga. Zbynek não teve qualquer preparo teológico ou formação eclesiástica. A missão dele era a de erradicar a heresias de Wycliff naquela região  e com isso ganhar favores do papa. Zbynek tornou-se grande inimigo da causa reformista de Huss.
C. Radicalismo ou Fidelidade a Deus?
Huss, influenciado pelos escritores de John Wycliff, tornava-se cada vez mais um apaixonado pela reforma da Igreja de Jesus Cristo. Começa então a andar em terreno perigoso. Em 1405 declara que a suposta aparição do sangue de Cristo nos elementos da comunhão não passava de embuste. Em seus sermões, condenava o pecado dos padres, bispos e arcebispos. Declarava que os crentes tinham o mesmo direito que os sacerdotes de participarem do cálice na ceia, e não somente do pão. Ridicularizava o pretenso poder dos sacerdotes de concederem o Espírito Santo a uma pessoa ou mandarem-na para o inferno.
Foram muitas e duras as críticas expostas por Huss do púlpito de sua igreja e da tinha de sua pena. Huss via a Igreja de Cristo em uma situação de clamidade e não pôde se conter diante de tantas irregularidades.
Conseqüentemente a liderança da Igreja começou a reagir. Zbynek ficou enfurecido ao saber que muitos pregadores, seguidores de Huss, acusavam Zbynek de simonia (venda de milagres) e imoralidade. Zbynek resolveu calá-los prendendo-os. Entretanto, Huss respondeu: “Como pode haver sacerdotes imorais e criminosos andando pelas ruas livremente, enquanto que os humildes homens de Deus estão enjaulados como hereges e sofrendo privações por causa da proclamação do Evangelho?”¹
O arcebispo Zbynek passou a enviar espias à igreja de Huss para ouvirem seus sermões. Huss sabia disso, mas não se intimidava.
Com a força do Espírito de Deus Huss tornou-se um gigante em plena Idade Média. Huss enfrentou o poder corrupto dentro de sua própria igreja e não  temeu. Seu única temor era reservado àquele que é Senhor da Igreja e da História. Ao constatarmos isso podemos perceber quão omissos somos nós hoje!. Diante de corrupção, da violência e injustiça que verificamos em nossos dias, a coragem e audácia de John Huss não deveria nos mover em favor do reino de Deus?

3.Um Homem que Perdeu a Batalha, Não a Guerra
A.Uma Cilada para John Huss
Huss recebeu ordens do próprio papa para se cala, mas não se calou. Em 1412, o papa João XXIII  proclamou uma cruzada contra o rei Nápoles, que tornara-se rebelde. Para levantar fundos contra a guerra, o papa institui a venda de indulgências (perdão) em larga escala por todo o império. Huss ficou horrorizado com isso e declarou: “mesmo que o fogo para queimar o meu corpo seja colocado diante dos meus olhos, eu não obedecerei”. E ainda, diante  de grande pressão, declarou: “Ficarei em silêncio? Deus não permita! Ai de mim, se me calar. É melhor morrer, do que não me opor diante desta impiedade, o que me faria participante da culpa e do inferno.” Excomungado já quatro vezes, Huss resolveu exilar-se voluntariamente, para que sua igreja não privada das ministrações. Foi para o sul da Boêmia, onde escreveu livro e pregou em alguns vilarejos. Dois anos depois, o papa convocou um concílio em Constança e convidou Huss. Depois de receber garantias do imperador da Boêmia, Sigismund, meio irmão do rei Václav, que prometeu conceder-lhe salvo conduto enquanto estivesse em Constança, Huss aceitou o convite. Na segunda semana que estava em Constança, Huss foi preso e ficou nesta condição vários meses enquanto o Concílio prosseguia.
B. Uma Triste Ironia
Huss sofria amargamente numa prisão onde hoje se encontra um luxuoso hotel. As condições na sela eram tão precárias que Huss ficou seriamente enfermo e quase morreu. Nenhuma oportunidade de defesa lhe foi dada.
C. A Morte de Huss
Finalmente Huss foi chamado ao Concílio. Advertiram: “Reconsidere seus escritos, ou morre”. Huss não voltou atrás. Então, rasgaram suas vestes e colocaram em sua cabeça uma mitra de papel com 3 demônios desenhados e escrito “Eis um herege”. Acompanhado por uma multidão, Huss, amarrado e puxado pela ruas de Constança foi ao local de sua morte.
Na presença de homens, mulheres, velhos e crianças, Huss foi amarrado numa estaca e lhe deram mais um oportunidade para rever seu ensino. Mas em um grito respondeu: “Deus é minha testemunha de que a principal intenção foi tão somente libertar os homens de seus pecados e baseado na verdade do Evangelho que preguei e ensineu, estou realmente feliz em morrer hoje.” Com estas palavras um sinal foi dado ao executor que acendeu a fogueira. Por entre chamas e fumaças Huss entoou uma melodia “Jesus, Filho do Deus vivo, tem misericórdia de mim.” Huss morreu cantando.
Huss enfrentou pressões terríveis. Poderia viver uma vida confortável, desfrutando de seu status de mestre e líder religioso, mas, com Moisés, “preferiu ser maltratado... a usufruir  os prazeres transitórios de pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão” (Hb 11.25,26).

Conclusão
Apesar de morto, John Huss não foi derrotado. Deixou um legado para a causa da Reforma Protestante que surgiria décadas depois, com Martinho Lutero. Tanto Wycliff como Huss foram sementes semeadas a seu tempo, que brotaram anos mais tarde, cujos frutos colhemos ainda hoje.
Que possamos, como verdadeiros cristão, defender a verdade do Evangelho e, se preciso for, assim como John Huss, morrer por ela.
Nota
¹ Revista Church History, p. 13.
Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves
Fonte: revista Palavra Viva – Graça e Fé, pg 9-12, Editora Cultura Cristã. Compre esta trimestral e excelente revista dominical emwww.cep.org.br .

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

SERIE DE ESTUDOS EM COMEMORAÇÃO PELO ANIVERSÁRIO DA REFORMA PROTESTANTE

John Wycliff
A luz começa a brilhar

Introdução
Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Depois das trevas, do medo e da perseguição, chega o alívio com os primeiros raios de luz. A Bíblia, escondida na era das trevas, começar agora a aparecer. A bem sucedida participação na história da reforma de homens como Martinho Lutero e João Calvino, parece apagar um pouco da importante contribuição de John Wycliff e John Huss. Mas estes foram os precursores do movimento reformado. São chamados de pré-reformadores. Depois de uma época de descontentamento contra os abusos da Igreja Romana por toda a Europa, Deus, pela sua misericórdia, começa a levantar homens para fazer a Igreja de Cristo, a noiva, voltar a ser pura, santa e sem mancha. John Wycliff é chamado de a “Estrela d’alva da Reforma” por ser o primeiro instrumento usado por Deus a enfrentar o sistema papal antibíblica e as injustiças da Igreja Católica. Foi ele quem deu o “ponta-pé inicial” na emocionante história da volta da Igreja às Escrituras Sagradas. A presente lição pretende mostrar o valor do ensino Bíblico para a Igreja de Cristo e a importância de servos que se colocam como verdadeiras ferramentas na mãos do Senhor.

1. John Wycliff
A. Um grande erudito
O que marcou a vida deste homem foi sua erudição e dedicação ao estudo da teologia. Nasceu em Hipswell, Yorkshire na Inglaterra, em1329. Foi estudar em Oxford e logo se notabilizou por sua inteligência e erudição. Dominou a filosofia e os ensinos de Agostinho (ensinos que mais tarde influenciariam homens com Lutero e Calvino). Por ser um grande teólogo, tornou-se capelão do Rei da Inglaterra, Ricardo II. Nesta posição pôde fazer muito pela reforma de sua Igreja.
B. A presença de Deus na História
Deus é o Senhor da História. Nela ele mostra o seu amor e cuidado pela Igreja. Estando numa posição de grande destaque, Wycliff pôde ter acesso ao Parlamento e traduzir a Vulgata (Bíblia em Latim) para o Inglês. Essa tradução foi de fundamental importância, tanto para a vida espiritual do povo, como também para o próprio inglês.
Como fez com a rainha Ester, Deus ainda hoje eleva homens e mulheres para posições de grande destaque, conforme seus soberanos propósitos, para o engrandecimento do seu nome e crescimento de sua Igreja. Vemos aqui a distinção entre o homem de Deus e o homem sem Deus – Wycliff usou sua autoridade para a glória de Deus, enquanto que o papa perdeu sua autoridade diante de Deus pois a usava para si próprio.

2.Ensinos Voltados para a Bíblia
Wycliff defendeu as seguintes idéias para obter a reforma da sua igreja:
A.Sobre a Bíblia
Wycliff ensinava que os concílios e a liderança da Igreja deveriam ser provados pelas Escrituras Sagradas. A palavra do papa e a tradição da igreja não poderiam ter uma autoridade de maior do que a da Bíblia. Para o reformador Inglês, a Bíblia é a única regra de fé e prática. Ela é suficiente pra suprir as necessidades da alma humana, sem que sejam necessárias as intervenções da Igreja e as mágicas de seus sacerdotes. Wycliff entendia também que as Sagradas Escrituras deveriam ser colocadas na mão do povo e não ficarem limitadas ao clero (liderança da Igreja).
B.Sobre o Papa e seus sacerdotes
Wycliff ensinava que os papas eram homens sujeitos ao erro e ao engano. Assim como dentro da Igreja de Cristo havia joio e o trigo, ser líder da igreja não era garantia de salvação, muito menos de perfeição. Ensinava que o ofício do papado era invenção do homem e não de Deus e que o papa seria o anticristo se não seguisse fielmente os ensinamentos de Cristo. Censurou monges quanto à preguiça e ignorância deles no que dizia respeito ao estudo das Escrituras.
C. Sobre a Ceia
Segundo a Igreja Católica Romana, no momento da ceia o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo.  Este dogma é chamado de transubstanciação. Wycliff declarou que esta doutrina era antibíblica, pois Cristo está presente nos elementos de forma espiritual e não física.
O historiador E.E.Cairns diz que “se a idéia de Wycliff fosse adotada, significaria que o sacerdote não mais reteria a salvação de alguém por ter em suas mãos o corpo e o sangue de Cristo na comunhão”¹
Com sua inteligência e posição dadas por Deus, a pregação de Wycliff começava a ser ouvida nos mais distantes cantões da Inglaterra, chegando a atravessar o mar em direção ao continente. Muitas pessoas devem ter recebido seus ensinos ou ganhado uma Bíblia na sua própria língua conhecendo assim a vontade de Deus para suas vidas.

3.Influência que Atravessou Fronteiras
A. Os lolardos
Para que o ensino bíblico fosse transmitido por toda Inglaterra, Wycliff fundou um grupo de pregadores leigos, os quais receberam o nome de Lolardos. O trabalho de expansão  deu certo, mas o papa não gostou. Em um decreto², a Igreja condenou os Lobardos à pena de morte. Apesar disto, Deus não permitiu que nenhum desses pregadores fossem mortos.
B.Os boêmios
Estudantes da região da Boêmia, no centro da Europa, foram para Oxford e lá tiveram contato com os escritos de Wycliff e com alguns dos Lolardos. Ao regressarem para a sua terra, os boêmios levaram as novas informações e ensinos que acabaram influenciando aquele que seria um outro grande reformador, John Huss.
Ao tomar os primeiros contatos com os escritos de Wycliff, Huss escreve na margem de seus papéis: “Wycliff, Wycliff, você vai virar muitas cabeças”. Anos mais tarde, Huss teria sido acusado pela Igreja de Wicliffismo.

A história nos mostra que Deus vai espalhando sua semente. Assim como na Igreja Primitiva, crentes foram influenciando pessoas, autoridades e até reis, a ponto de ocupar todo o mundo. Temos a Bíblia em nossas mãos hoje porque servos e servas de Deus se dedicaram para isto. A mensagem continua viva. Será que a Igreja tem influenciado? O Evangelho de Cristo tem de fato sido pregado?

4.Condenado Depois de Morto
Próximo aos 55 anos de idade, Wycliff sofreu um derrame e morreu. Passados 30 anos, o Concílio de Constança, convocado pelo papa João XXIII, reuniu-se em 1415 e, sob a condenação de heresia, decidiu exumar o corpo de Wycliff e queimá-lo em praça pública.
Como pode-se observar, o poder arbitrário tomou conta da Igreja. Absurdos como a punição de um homem depois de morto e outros mais preencheram a sua história.
Mas tudo isso não foi suficiente para calar a voz do Evangelho. O clero não percebeu que estava lutando contra o próprio Deus.

Conclusão
Vimos que a escuridão da Idade Média começa a ser vencida pelos primeiros raios de luz de manhã. Deus prepara um homem, coloca-o numa posição de influência e autoridade e começa a trazer a Igreja de volta para o seu noivo.
John Wycliff envolve-se numa batalha de fé pela Verdade das Escrituras, coloca a Bíblia na mão do povo, ensina-a e tenta tirar este povo das mãos daqueles que exploravam suas vidas. Morre, mas deixa uma mensagem viva, um exemplo de luta pelo Evangelho.
Certo autor escreveu que a luta dos pré-reformadores terminou com insucesso. Entretanto, devemos crer que a perseguição e morte de homens com Wycliff e Huss não foram empreendimentos frustrados, e sim o plano soberano de Deus abrindo caminho para acontecimentos maiores. Anos mais tarde os reformadores levantaram a bandeira da “Sola Scriptura”, em favor da suficiência e autoridade exclusiva da Palavra  de Deus sobre qualquer dogma ou direção humana. A semente do ensino de Wycliff e Huss estava lá e, até hoje, dá os seus frutos.
A presente lição serve como um alerta para  a Igreja de hoje. Os crentes devem viver uma vida santa e, ao mesmo tempo, devem estar prontos para reformar a igreja sempre que ela se afastar do ensino bíblico. Agindo assim seremos encontrados por Deus fiéis.
Quão disposto você está a sacrificar sua vida por amor ao Evangelho?


Nota
¹ CAIRNS O Cristianismo Através dos Séculos, p. 206.
² Conhecimento como “De Haeretico Comburendo”.
Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves
Fonte: revista Palavra Viva – Graça e Fé, pg 5-8, Editora Cultura Cristã. Compre esta trimestral e excelente revista dominical emwww.cep.org.br .